Se uma mistura de sonho e vida,
Aquela terra de suavidade
Que na ilha extrema do sul se olvida.
É a que ansiamos. Ali, ali,
A vida é jovem e o amor sorri.
Talvez palmares inexistentes,
Áleas longínquas sem poder ser,
Sombra ou sossego dêem aos crentes
De que essa terra se pode Ter
Felizes, nós? Ah, talvez, talvez,
Naquela terra, daquela vez.
Mas já sonhada se desvirtua,
Só de pensá-la cansou pensar,
Sob os palmares, à luz da lua,
Sente-se o frio de haver luar.
Ah, nesta terra também, também
O mal não cessa, não dura o bem.
Não é com ilhas do fim do mundo,
Nem com palmares de sonho ou não,
Que cura a alma do seu mal profundo,
Que o bem nos entra no coração.
É em nós que é tudo. É ali, ali,
Que a vida é jovem e o amor sorri.
Fernando Pessoa, 1933
(in «Obra essencial de Fernando Pessoa, Poesia do Eu»,Assírio & Alvin)
Tributo à Meia Praia de Lagos, tão lamentavelmente agredida por uma ocupação (des)urbana e (in)paisagística. Ainda restam os "Plamares" e as belas vistas que de lá se podem apreciar. Possa a poesia em Pessoa, derrubar o mau cimento...
1 comentário:
Eu e os "índios" agradecemos este tributo de certeza.
Infelizmente, o verdadeiro mau cimento,ainda está por vir.
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