15 junho 2007

lição do carvão

O pequeno Zeca entra em casa, após a aula, batendo forte os seus pés no soalho da casa. O seu pai, que se dirigia para o quintal para fazer alguns serviços na horta, ao ver aquilo chama o menino para uma conversa.
Zeca, de oito anos de idade, acompanha-o desconfiado. Antes que o seu pai dissesse alguma coisa, fala irritado:
- Pai, estou com muita raiva. O Juca não deveria ter feito o que fez comigo. Desejo tudo de mal para ele. Só me apetece matá-lo!
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O seu pai, um homem simples mas cheio de sabedoria, escuta calmamente o filho que continua a reclamar:
- O Juca humilhou-me na frente dos meus amigos. Não quero que isso volte a acontecer! Gostaria que ele ficasse doente, sem poder ir à escola.
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O pai escuta tudo sem dizer nada enquanto caminha até um abrigo onde tem guardado um saco cheio de carvão. Levou o saco até o fundo do quintal e o menino acompanhou-o, calado. Zeca vê o saco ser aberto e antes mesmo que ele pudesse fazer uma pergunta, o pai propõe-lhe algo:
- Filho, faz de conta que aquela camisa branquinha que está a secar no estendal é o teu amigo Juca e cada pedaço de carvão é um mau pensamento teu, endereçado a ele. Quero que mandes todo o carvão do saco na camisa, até o último pedaço. Depois eu volto para ver como ficou.
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O menino achou que seria uma brincadeira divertida e pôs mãos à obra. O estendal com a camisa estava longe do menino e poucos pedaços acertavam o alvo.
Passou-se uma hora e o menino terminou a tarefa. O pai, que espreitava tudo de longe, aproximou-se do menino e perguntou-lhe:- Filho como te sentes agora?
- Estou cansado, mas estou alegre porque acertei muitos pedaços de carvão na camisa.
O pai olha para o menino, que fica sem entender a razão daquela brincadeira e, carinhosamente, diz-lhe:
- Vem comigo até o meu quarto, quero mostrar-te uma coisa.
O filho acompanha o pai até o quarto e é colocado em frente de um grande espelho onde pode ver o todo seu corpo. Que susto! Só se conseguia ver os seus dentes e os olhinhos. O pai, então, diz-lhe ternamente:
- Filho, viste que a camisa quase não se sujou; mas, olha só para ti. O mal que desejamos aos outros é como o que te aconteceu. Por mais que possamos atrapalhar a vida de alguém com os nossos pensamentos, a borra, os resíduos, ficam sempre em nós mesmos.
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Autor desconhecido
Este conto é dedicado a quem se esconde no anonimato, aos bufos e demais criaturas com personalidade passiva-agressiva.

2 comentários:

Bruno Duarte Eiras disse...

Lindo, lindo, lindo... não fosse o meu blog bastante temático e fazia um link directo. Assim vou guardar o link deste texto! :-) bjs

Ana Arnold Guerreiro disse...

Olá Bruno,
seria interessante se abrisses uma janela aos contos... ;-) Também constam nos livros, nas memórias humanas e RAM...
Tenho mais, sábios e muito apropriados a várias situações...
Obrigada pela visita e participação
Bjokas